segunda-feira, outubro 17, 2005

Uma Questão de Sangue

Defino a impotência sexual como um pênis mole em circunstâncias muito duras. Talvez tenha sido a forma que a natureza encontrou para que o homem se mantivesse em sintonia com o que sente, com o que ocorre em seu íntimo. Mas a palavra tem para os homens uma conotação "duríssima" - é com ela que os condenamos pela sua falta de poder, de força, pela sua inutilidade. O homem pode ver o próprio pênis como um radar. Quando está mole, é sinal de que seus sentimentos - tudo o que sente na esfera sexual - estão "fora de alcance". Se estando mole não funcionasse, aí poderíamos dizer que o homem é impotente.

OBS.: Pra quem não sabe, a dureza é proporcional à quantidade de sangue que o coração bombeia para tal lugar, ou seja, tudo isso é culpa do sangue!

OBS2.: Fumar pode causa impotência sexual!

domingo, outubro 02, 2005

O Fenômeno Flashdance

Nos mitos tribais e na mitologia grega, conforme documentaram estudiosos como Carl Jung e Joseph Campbell, alguns temas resistem ao tempo. Um desses temas é o dos homens que competem para conseguir a atenção da mulher e evitar-lhe a rejeição sexual. Na sociedade norte-americana propriamente dita (nesse caso nós imitamos eles), os astros de cinema são equivalenntes aos deuses gregos. Esses temas são também retratados não só diretamente como também subliminarmente pelos filmes e novelas mais populares - seja no caso de Fred Astaire perseguindo a resistente Ginger Rogers em Picolino, seja o patrão em Flashdance perseguindo a resistente Jennifer Beals, seja o Super-homem correndo atrás de Lois Lane, ou o namorado de Madonna em Procura-se Susan Desesperadamente.
Se esse tema já existe há tanto tempo e se convivemos há tanto tempo com ele, por que questioná-lo agora? Porque, no curso da evolução, o tema mostra que os homens competem entre si, muitas vezes se digladiam e se matam, e os sobreviventes, os "heróis", dão filhos às mulheres que eram consideradas mais atraentes pelos critérios de cada sociedade. A tecnologia nuclear transformou esse sistema quase que completamente fora de moda, da noite para o dia, porque o processo que antes permitia ao mais apto sobreviver e se multiplicar hoje mataria toda a espécie.
O "tema milenar" da competição masculina e da competição feminina pelo herói/sobrevivente levou-nos da sobrevivência do mais aopto à beira do extermínio da humanidade. Os papéis sexuais passaram da funcionalidade à inutilidade quase da noite para o dia. É por isso que esse tema milenar deve ser hoje questionado.
Uma palavra de cautela: a fantasia nos traz esperança, mas quando a fantasia nos leva na direção errada, nos tira essa esperança, e cria a depressão.
Em Flashdance a heroína é mulher que trabalha. Em tese, esse fato deveria diminuir a pressão sobre o homem no sentido do maior desempenho. Será que a reduz? Temos neste filme a versão dos anos oitenta da mulher liberada. O filme projetou de súbito a atriz Jennifer Beals do anonimato para o que a revista People chamou de "a imagem da sua geração".
Beals vive sozinha (com um cachorro que por sinal é lindo) num sótão e Pittisburg. Ela vai ao trabalho de bicicleta, correndo por entre os carros sem medo algum, como um Jedi em meio as árvores. À noite ela tem outro emprego - bailarina numa boite. de alguma forma, nos intervalos ela treina. E de algum modo, ela coreografaos seus complexos e brilhantes shows noturnos entre o barulho, a dança e os treinos. A versão urbana da Supermulher.
Entretanto, a nossa dançarina sonha em se tornar uma grande bailarina de ballat clássico. Gostaria de dançar para a crítica, e não num cabaré para bêbados. Nunca estudou ballet, mas o seu talento nas discotecas é bruto e real.
De que modo a Supermulher atinge a sua meta? Desistindo do emprego diurno e se dedicando ao estudo de ballet? Não! mantendo o emprego e poupando dinheiro para treinar? Não! O patrão, que é simpático, tem um Porche negro e mora numa mansão, a vê dançar. o homem no cavalo branco é substituído pelo homem no Porche preto. Ele a persegue. Ela lhe dá o fora. Um fora direto. Curto e grosso. Ele persiste. Ela o ofende. Por quê? "Eu não posso sair com o patrão!", ela grita, com independência. Em simulada frustação, o patrão responde: "Faça como quiser. Você está despedida. Eu a pego às oito amanhã à noite."
Pois aí é que está a questão. Ela NÃO é despedida. nem por um segundo sequer reage à declaração dele com o jeito de alguém que pensa ter sido despedido. Assim, acaba saindo com ele. E mantém o emprego. Descobrimos, então, que o homem que não está disposto a receber um não como resposta acaba conseguindo a mulher que talvez tivesse interessada nele desde o início (disso nunca temos certeza, porque a certeza estragaria o mistério). A beleza e o talento da mulher permitem-lhe o êxito fazendo jogo duro, fazendo-se de difícil. Conforme ressalta a amiga negra, deixando que o homem batalhe por ela, fazendo-se de difícil, fingindo ser independente, nunca arriscando a rejeição diretamente - o jogo duro.