quarta-feira, novembro 22, 2006

A talvez feliz história do perecível

A todo o instante pergunto-me quanto tempo às coisas podem durar, creio que seja uma necessidade humana estabelecer um prazo de validade para o aglomerado de coisas a nossa volta, desde alimentos até relações. Após muitas reflexões desvairas conclui que todas as coisas deviam ser tradas como produtos, isto é, seria tão prático se ao conhecer algo novo você soubesse o quanto aquele fascínio poderia durar e qual seria o preço a pagar, até porque nessa nossa bolha de valores e sentimentos frustrados tudo tem um custo.
Exijimos o constante do perecível, desejamos a eternidade em sua plena forma, porém nunca tomamos consciência do quão assustadora é a vida sem anestesia, precisamos sempre de um consolo que ocupe o desamor, um certo tipo de coisa que tenha a capacidade de maquiar as marcas de nossos fracassos e que de alguma forma nos faça acreditar que o dia de manhã será mais colorido e cheiroso... Pura ilusão!
Definitivamente todas as pessoas irritam-me a extremos, estou cansado de conversinhas agradáveis e de confabulações ordinárias, tenho conhecimento de seria o fim dos tempos tornar-me totalmente anti-social, mas devo dizer que é uma idéia interessantíssima. Poses e submundos são anestésicos infalíveis para qualquer tipo de problema, a partir do instante em que você começa a notar no quão sublime é o simples fato do coração ainda bater num peito vasto de ilusões, tudo toma outro sentido, um sabor mais ardente e visceral, entretanto a realidade ainda é para poucos.
O tempo é categoricamente indivisível, ainda assim inventamos mil e um meios de afastar este terror de nossa consciência, não pensamos no futuro e tentamos ao máximo “aproveitar a ocasião”, por vezes esquecemos do reflexo de cada atitude. Desejamos mergulhar em alguns instantes e apagar tantos outros; ouso ainda afirmar que qualquer felicidade tem seu prazo de duração estipulado; é necessario manter a incoerência emocional. Creio sinceramente que “dar tempo ao tempo” seja uma atividade um tanto quanto chata. Pessoas nas ruas são velozes demais, amam e desamam com uma facilidade inacreditável, sinto que preciso absorver mais deste mundo eletricamente carregado e densamente extremado.
Não desejo a eternidade - muito menos que “seja eterno enquanto dure”, até porque poesia funciona bem nos livros e ilustra todos aqueles romances ordinários que nos põem a fantasiar - quero apenas o melhor. Arrisquei e sei que isto é grave.

domingo, novembro 19, 2006

Blasfemias do Meu Eu-Lírico Mútuo

Agora pouco entrando num fórum de internet me deparei com o tópico "Coisas que se deve fazer antes de morer" e com as inúmeras listas de coisas que as pessoas diziam querer fazer para falecerem completas.
Observei as respostas atentamente, e alguns instantes depois percebi que tudo escrito ali era tão real e fácil que poderia ter sido realizado agora, mas que eles sem perceberem almejam para o último dia de suas vidas, como se o momento de nossa partida fosse com aviso prévio e com tempo de sobra para nos arrependermos de nossos pecados e dizer o quanto amamos quem nos cerca.
Refleti um segundo, pensei no que gostaria de ter feito, no que fiz, e no que tenho que fazer durante minha vida.
Percebi que tenho o agora em minhas mãos, a benção de todos os sentidos possíveis no meu corpo, e a energia de simplesmente levantar da cadeira e fazer o que deve ser feito.
Agora sei que quando minha vida acabar eu não vou querer que todos saibam o quanto os amei, não vou ter desejado escrever um livro para ser eterno nas palavras, e não vou me arrepender de não ter feito algo, mas sim vou lutar para fazer tudo o que consigo agora, transformar meu tempo que eu julgava vago, em atividades que me engrandesam e dizer diariamente não apenas com palavras, mas com ações o quanto desejo cada um que habita em minha vida.
Não vejo motivo para chorar, é tudo tão lindo e maravilhoso lá fora que qualquer tristeza que me cerca parece banal se comparada a alegria da natureza.
Tenho meus movimentos, meus pensamentos, meu raciocínio e sei muito bem que todas reações terão suas consequências. Vivi pouco, mas acho que no final de tudo estou pronto para morrer se essa fosse - ou quem sabe for- a hora do meu adeus.
Gostaria de ter fillhos, conhecer mais pessoas, ler mais, amar mais, chorar mais, e conhecer mais dores, mas também tenho consciência de que todo pouco que fiz foi o suficiente para minha existência pacata.
Provei o amor verdadeiro, passageiro, a paixão avassaladora, o ódio gritante, as lágrimas inquietas, as letras pulsantes, a música, as artes cênicas, as sensações, os prazeres, as dores, os olhares, o medo, a culpa, a vingança, o arrependimento, o remorso, a decepção, a traição, a família, os amigos, os amores, e tudo foi incrivelmente delicioso em algumas partes e aparentemente insuportável em outras.
Tudo valeu a pena, tudo sempre vale a pena, e as horas nada mais são do que lembretes insaciáveis de que o tempo passa e leva tudo que conquistamos junto com seus ventos.
Não estou prevendo minha morte, e se ela ocorrer amanhã não digam que eu sentia que ela estava vindo me visitar, porque eu não sinto nada. Talvez isso pareça um texto suicida, com palavras de despedidas ridículas de quem está perto do fim e filosofias tão baratas que parecem de uma vida boa que iludi ter, para fingir que tudo que passei na terra foi bom e que nada acabou sendo por acaso. Mas não é esse o objetivo, ou talvez sabe-se lá quem possa ser, mas o porém é que não existe porque esperar uma provável tentativa de suicídio para escrever cartas bonitas e melancólicas sobre o que foi minha vida, tenho o poder de escrevê-la agora, de compartilhá-la com os outros agora, de me despedir dos outros agora.
Porque, afinal, é tudo isso que é a minha e a nossa existência, despedidas intermináveis, funerais incompreendidos e uma busca pelo amor quase que insaciável, vivo preenchendo as páginas de minha vida e as vezes acabo me centrando tanto na página que estou escrevendo que esqueço que o espaço é curto e que a folha já está gasta, por isso decidi escrever todas as minhas linhas como se fossem últimas, porque mesmo que elas não terminem o livro da minha existência, vão terminar os parágrafos do meu agora, e sempre serão simplesmente aquilo que nasceram para se tornar: finalizadas.
Talvez isso seja felicidade.
Poder ser que esse sentimento de expectativas e esperança me torne realmente uma pessoa completa.
Não sinto uma alegria insuportável explodindo meu coração, mas mesmo assim um vento de oportunidades me mostra que procurei demais por algo, que na verdade não era para ser encontrado.
Escuto o dia, sinto a sombra do sol, e um conformismo em meu coração que há algum tempo estava desaparecido.
É como se hoje fosse o primeiro dia de muitos melhores que não cessarão até minha morte.
Nem sei o que escrever. Tento, mas explicar esse calor em meu corpo não é algo muito fácil para mim, do memso jeito que tento espantar esse sono que quer levar minha alegria com ele, e me fazer acordar com todos meus sentimentos depressivos banais, vindos de uma vida marravilhosa, mas insuportável em dias opostos.
Cansei!!
As palavra não me entendem e as frases não me preenchem.
Vou me levantar para o nascer do sol do sorriso, e aproveitar o máximo possível dos seus raios, porque mesmo no verão a tempestade insiste em banhar com depressão as ruas, e mesmo no inverno o dia amanhece, soluçando novidade e transbordando esperança.

sexta-feira, novembro 17, 2006

Meu pequeno triunfo

Meu mouse (que ainda é aquele com uma bolinha dentro, velha guarda) começou a agir por conta própria e tomei a decisão de, pela primeira vez na vida, abrí-lo para uma limpeza mais profunda.
Aviso: NÃO TENTEM FAZER ISTO EM CASA!
Após retirar o parafuso com uma chave-de-fenda - obrigado, mamãe, agora não preciso ficar usando facas de manteiga e cabos de colherzinha - o bicho desmontou-se totalmente em minhas mãos. Entre as peças, duas minúsculas molinhas, que me deram uma surra durante 2 horas tentando descobrir de onde vieram.
A maioria das pessoas normais teria simplesmente largado essa bugiganga de lado e comprado um mouse ótico de 10 reais made in China no hiper-mercado mais próximo. O problema é que, se todo mundo pensar assim, o País vai ficar sempre dependendo de exportações de soja plantadas por destruidores da Amazônia para compensar as importações na Balança Comercial. Além disso, os recursos utilizados na fabricação de um mouse (principalmente, petróleo, pra fazer o plástico e pra trazer o mouse da China de navio até aqui) não são renováveis, traduzindo num futuro mais sombrio e pior para nossos filhos.
Claro, não foi por nenhuma destas excelentes razões que me debrucei diante do pequeno quebra-cabeças de tecnologia obsoleta. Apenas gosto de desafios, melhor ainda se não tiver nenhuma importância. Montar o mouse, só com a bolinha e os 2 botões no lugar, qualquer chimpanzé amestrado é capaz. Mas o "scroll wheel", isso é, aquela rodelinha giratória no meio dos botões - meu mouse não é tão obsoleto assim - tem que ficar preso às tais molinhas e a uma pecinha de plástico cujo encaixe também demorei a descobrir qual era. Procurei até na internet alguma orientação pra remontar a bagaça, num momento de fraqueza, mas tudo que obtive foi alguns "manuais de limpeza de mouse para loiras".
Acreditem ou não, ver meu mouse remontado, limpo, em perfeito funcionamento, e o fato de ter conseguido isso sem nenhuma ajuda externa, garantiu a felicidade do meu feriado de quarta-feira.

Bertold Brecht


O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas.
O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.
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Bertolt Brecht (1898-1956). Dramaturgo e poeta alemão. Revolucionou o teatro com peças que visavam estimular o senso crítico e a consciência política do espectador. Brecht foi um dos nomes mais influentes do teatro do século XX.

terça-feira, novembro 14, 2006

Não leiam

Nunca achei que eu me tornaria um maníaco depressivo que vive de ilusões concientes.
A mente é engraçada, mas quando você pensa que é o mais forte, o mais preparado, o mais seguro, vem uma bomba e acaba com você!
Estou melhor nessa semana, mas ainda tô colocando muita minhoca na minha cabeça!
I NEED HELP!
Mas não façam nada por mim, a ajuda que eu preciso é de mim mesmo!
Dei ALOKA geral agora: tópico nada a ver!
Se você está lendo achando que o título era só pra aguçar a curiosidade, bem, você errou. Disse pra não ler porque, realmente, é perda de tempo, afinal, isso aqui é só um desabafo comigo mesmo!
Por isso que eu digo:
_ACREDITE EM MIM!

domingo, novembro 12, 2006

Uso prático do direito da ignorância

Primeiro, foi o "Animal Marinho" que se defendeu com dedo em riste e sua frase memorável: eu não sabia de nada. O resultado, todo mundo sabe, foi uma compensação: sua reeleição, sua absolvição pública. Ponto.

Agora, a Polícia Federal, outra de nossas instituições, segue o exemplo presidencial e clama sua inocência com o cândido "eu não sabia", este poderoso trunfo argumentativo. Fim de caso.

Eu acho que nós, brasileiros, temos o dever cívico de seguir o exemplo de nossas instituições. Mais: devemos exigir o mesmo direito que elas têm em não saber de nada. Imaginemos o mundo maravilhoso de uma democracia onde todos têm direitos e deveres iguais, principalmente o de ignorar fatos que, teoricamente, seriam de nossa responsabilidade.

Para entender concretamente este ideal, vamos ilustrá-lo com a proposta "Uso prático da ignorância durante o vestibular", descrita abaixo.

A partir do ano que vem, os exames do Enem e de todas as universidades brasileiras deverão incluir em suas questões de múltipla escolha a opção "f) Eu não sei". Aquele que responder determinada questão utilizando este recurso deverá, por lei, ser perdoado de sua ignorância, e mais, caso o candidato responda todas as questões com "f) Eu não sei", devera receber clemência máxima do júri, obter o título "gabaritou", com direito a entrevista na televisão e medalha de honra ao mérito entregue pelo reitor da faculdade.

Sendo assim, proponho aos milhares de estudantes do Brasil que sigam a lógica de nossas instituições e façam uma greve geral pelo direito de não saber. Mais: que reivindiquem que a ignorância (sincera) deixe de ser punida e, ao invés disso, passe a ser premiada de todas as formas possíveis. Caso a professora pergunte, por exemplo, "quantos escândalos de corrupção o governo federal atravessou nos últimos três anos?", o primeiro aluno que levantar a mão para responder orgulhosamente "eu não sei!", devera ganhar um ponto a mais na média.

Além deste exemplo do vestibular, o mesmo princípio deveria ser aplicado no mundo empresarial. Imaginemos a situação hipotética: o funcionário (que entrou pra faculdade por ter gabaritado o exame utilizando o recurso "f) Eu não sei") faz uma manipulação enganosa ou toma uma decisão incorreta. O patrão enfurecido invade a sala do funcionário vociferando o erro. O funcionário, acuado, procura em todos os cantos de sua memória uma resposta pertinente a dar ao patrão furioso. Num momento de luz, lembra-se do magnífico exemplo de compaixão vivido pelo "Animal Marinho" e diz com voz embaraçada a expressão mágica: "eu não sabia". Neste instante, o patrão enraivecido é imediatamente sensibilizado pelo problema do funcionário, e a fúria em seus olhos é lentamente substituída por um profundo sentimento de fraternidade. Tocado e inspirado pela ignorância de seu funcionário, o chefe convoca uma reunião extraordinária. Num longo discurso, ele explica o caso a toda equipe. E conclui: "ele não sabia e, por isso, merece uma compensação, quem sabe até um aumento de salário. Entendam, este é o tipo de comportamento que espero de vocês. O exemplo deste funcionário deve ser seguido por todos." Toda a equipe, emocionada com discurso do patrão, o felicita com uma longa salva de palmas, fortes abraços, generosos apertos de mão. E todos viveram felizes para sempre. Inclusive o funcionário, que sabendo-se responsável pelo erro, pôde respirar aliviado por ter dito a frase certa, no momento certo.