domingo, novembro 19, 2006

Blasfemias do Meu Eu-Lírico Mútuo

Agora pouco entrando num fórum de internet me deparei com o tópico "Coisas que se deve fazer antes de morer" e com as inúmeras listas de coisas que as pessoas diziam querer fazer para falecerem completas.
Observei as respostas atentamente, e alguns instantes depois percebi que tudo escrito ali era tão real e fácil que poderia ter sido realizado agora, mas que eles sem perceberem almejam para o último dia de suas vidas, como se o momento de nossa partida fosse com aviso prévio e com tempo de sobra para nos arrependermos de nossos pecados e dizer o quanto amamos quem nos cerca.
Refleti um segundo, pensei no que gostaria de ter feito, no que fiz, e no que tenho que fazer durante minha vida.
Percebi que tenho o agora em minhas mãos, a benção de todos os sentidos possíveis no meu corpo, e a energia de simplesmente levantar da cadeira e fazer o que deve ser feito.
Agora sei que quando minha vida acabar eu não vou querer que todos saibam o quanto os amei, não vou ter desejado escrever um livro para ser eterno nas palavras, e não vou me arrepender de não ter feito algo, mas sim vou lutar para fazer tudo o que consigo agora, transformar meu tempo que eu julgava vago, em atividades que me engrandesam e dizer diariamente não apenas com palavras, mas com ações o quanto desejo cada um que habita em minha vida.
Não vejo motivo para chorar, é tudo tão lindo e maravilhoso lá fora que qualquer tristeza que me cerca parece banal se comparada a alegria da natureza.
Tenho meus movimentos, meus pensamentos, meu raciocínio e sei muito bem que todas reações terão suas consequências. Vivi pouco, mas acho que no final de tudo estou pronto para morrer se essa fosse - ou quem sabe for- a hora do meu adeus.
Gostaria de ter fillhos, conhecer mais pessoas, ler mais, amar mais, chorar mais, e conhecer mais dores, mas também tenho consciência de que todo pouco que fiz foi o suficiente para minha existência pacata.
Provei o amor verdadeiro, passageiro, a paixão avassaladora, o ódio gritante, as lágrimas inquietas, as letras pulsantes, a música, as artes cênicas, as sensações, os prazeres, as dores, os olhares, o medo, a culpa, a vingança, o arrependimento, o remorso, a decepção, a traição, a família, os amigos, os amores, e tudo foi incrivelmente delicioso em algumas partes e aparentemente insuportável em outras.
Tudo valeu a pena, tudo sempre vale a pena, e as horas nada mais são do que lembretes insaciáveis de que o tempo passa e leva tudo que conquistamos junto com seus ventos.
Não estou prevendo minha morte, e se ela ocorrer amanhã não digam que eu sentia que ela estava vindo me visitar, porque eu não sinto nada. Talvez isso pareça um texto suicida, com palavras de despedidas ridículas de quem está perto do fim e filosofias tão baratas que parecem de uma vida boa que iludi ter, para fingir que tudo que passei na terra foi bom e que nada acabou sendo por acaso. Mas não é esse o objetivo, ou talvez sabe-se lá quem possa ser, mas o porém é que não existe porque esperar uma provável tentativa de suicídio para escrever cartas bonitas e melancólicas sobre o que foi minha vida, tenho o poder de escrevê-la agora, de compartilhá-la com os outros agora, de me despedir dos outros agora.
Porque, afinal, é tudo isso que é a minha e a nossa existência, despedidas intermináveis, funerais incompreendidos e uma busca pelo amor quase que insaciável, vivo preenchendo as páginas de minha vida e as vezes acabo me centrando tanto na página que estou escrevendo que esqueço que o espaço é curto e que a folha já está gasta, por isso decidi escrever todas as minhas linhas como se fossem últimas, porque mesmo que elas não terminem o livro da minha existência, vão terminar os parágrafos do meu agora, e sempre serão simplesmente aquilo que nasceram para se tornar: finalizadas.
Talvez isso seja felicidade.
Poder ser que esse sentimento de expectativas e esperança me torne realmente uma pessoa completa.
Não sinto uma alegria insuportável explodindo meu coração, mas mesmo assim um vento de oportunidades me mostra que procurei demais por algo, que na verdade não era para ser encontrado.
Escuto o dia, sinto a sombra do sol, e um conformismo em meu coração que há algum tempo estava desaparecido.
É como se hoje fosse o primeiro dia de muitos melhores que não cessarão até minha morte.
Nem sei o que escrever. Tento, mas explicar esse calor em meu corpo não é algo muito fácil para mim, do memso jeito que tento espantar esse sono que quer levar minha alegria com ele, e me fazer acordar com todos meus sentimentos depressivos banais, vindos de uma vida marravilhosa, mas insuportável em dias opostos.
Cansei!!
As palavra não me entendem e as frases não me preenchem.
Vou me levantar para o nascer do sol do sorriso, e aproveitar o máximo possível dos seus raios, porque mesmo no verão a tempestade insiste em banhar com depressão as ruas, e mesmo no inverno o dia amanhece, soluçando novidade e transbordando esperança.

2 comentários:

Sheila Campos disse...

Lolito, eu fico impressionada com o modo como escreve! Como escreve bem! Adoro ler seus textos! E que coincidência: depois de assistir a uma leitura dramática, seguir para o cinema, sair emocionada do último Almodóvar, durante um longo e merecido banho pensava em fazer um "longo filme sobre o nada"! Sobre o "nada" de "especial" que é nossas vidas todos os dias, as horas, semanas, pessoas, nossas expectativas de que milagres aconteçam - mas nossa ignorância da beleza desse "nada" que se sucede, enquanto ansiamos por "adrenalina"!... Amei que tenha voltado a escrever! Beijos enorme!

Anônimo disse...

nossa....seinceramente esses foi um dos textos que eu mais gostei e mais admirei...sei lah...acho que parece muito cumigo...melodrámatico...com um toque de felicidade espontanea...lute mesmo...viva cada momento como se fosse u ultimo...espero ver algumas promessas escritas ai...cumpridas....to mara que verdadeiramente se realizem....enfim....adorei o texto...e ate mais!!!!

beijos!
x]


ps: TE AMO!