terça-feira, maio 02, 2006

Entre palavras e tabus sexuais

Tanto movimentos feministas, homossexuais, negros, quanto trabalhos de antropófagos, historiadores, pscicólogos, além de tentativas diversas no campo da educação sexual têm contribuído para a compreensão das formas visíveis e invisíveis da repressão sexual, com suas componentes racistas e classistas, formando intricada rede de idéias, práticas e instituições, sustentadas por um imaginário social contraditório onde se cruzam e se entrecruzam sem cessar a crença na espontaneidade sensual do povo brasileiro, o conservadorismo e a confiança na modernidade científica. Datado do fim do período áureo da boemia carioca, o Dicionário Moderno apresenta frases feitas e vocábulos gírios que contêm a idéia de injúria ou blasfêmia (os palavrões), os que se referem a tabus sexuais através de imagens populares, os que aludem aos órgãos genitais masculinos e femininos como grosseiros, os que referem diretamente a atos sexuais em aspectos degradantes ou viciosos e os que aludem a contextos também considerados grosseiros, degradantes ou viciosos. Vão constituir a gíria sexual ou erótica e, detalhe interessante, muitas vezes as palavras já pertenciam à gíria, mas sem conotação sexual, passando para a "linguagem proibida" ao receberem a conotação sexual. É o que ocorre, por exemplo, coma palavra cacete, na gíria comum significando maçante, na erótica, pênis. Ou com a palvra bolacha, anteriormente significando bofetada e, na gíria erótica, nádegas. Grude que, de comida e namora, passa a esperma. Lata que, de rosto e ser recusado, passa a ânus. A passagem de um contexto para o outro se dá por referência figurada aos atos e órgãos sexuais, ou à vida amorosa, ou a linguagem de grupos fechados ou à fala na prostituição. Fogosa é excitada; espirro é aborto; zé pereira, gravidez; canhão, mulher velha e feia; menelau, marido enganado; mina, prostituta que depois veio a ser garota bonita; tipógrafo, o cafetão; zona, o local do meretrício...

Nenhum comentário: