quinta-feira, setembro 08, 2005

Amantes

A menos que você more num desses encantadores países em que os maridos são encorajados a se envolver com outras mulheres ao invés de ficarem em casa "perdendo tempo" assistindo televisão, a amante é um fruto proibido (sabe-se que a maioria das coisas que são proibidas é mais gostoso). Ela é uma ameaça à estrutura da sociedade organizada, uma destruidora de lares, e uma distração para homens que deveriam estar atentos ao baile corporativo. Ela usa roupas de baixo pretas. Ela toma banhos longos e perfumados. Ela debocha do trabalho doméstico. Ela é temida ou invejada, ou ambas as coisas, por cinqüenta por cento da população casada da América. Ela é ilícita.
É isto, mais do que qualquer outra coisa, que mantém a amante em funcionamento, apesar dos altos custos do processo e do incrível aumento da Taxação Final se o galanteio for seguido de divórcio. (Um processo que o nosso amigo advogado descreve como a decisão sobre quem fica com a custódia do dinheiro.) Se as amantes fossem socialmente aceitáveis, elas perderiam grande parte do seu charme; o sopro do pecado e o medo da descoberta é que aguçam o prazer, tornando a separação um doce sofrimento e permitindo que um homem contemple suas contas do American Express com um sorriso secreto.
Quem é capaz de calcular o desgaste emocional causado pelo ato de se murmurar o nome errado no ouvido errado na hora errada? As tentativas desesperadas para remover os traços de Chanel 5 de um terno que supostamente passou a noite numa conferência de vendas? O arrepio de horror quando alguém que você conhece vagamente vê de relance e acena para vocês dois em um restaurante que "ninguém" vai? A corrida até a caixa de correio para recolher provas incriminadoras antes que elas caiam em mãos erradas? As acrobacias verbais necessárias para encobrir aqueles mortais lapsos verbais? A incrível capacidade criativa para explicar por que você não telefonou para dizer que só ia voltar do escritório às três da manhã?
De fato, esses choques diários de intriga e adrenalina são o pão e o vinho do viciado em amante. Uma mulher é só uma mulher, mas uma amante é um exercício de andar na corda bamba, além de ser fonte de excitação física. A mente adora esta travessura tanto quanto o corpo. O que é bom, porque em termos estritamente financeiros, uma amante custa pouco menos que metade de um iate de quarenta e cinco pés ou um cavalo de corrida.

2 comentários:

Anônimo disse...

"...o sopro do pecado e o medo da descoberta é que aguçam o prazer...", seria esse o verdadeiro prazer ou apenas mais um tipo de prazer? Bem... muito discutível isso, porém é PRAZER e sendo assim é bom sentir. Amante... acho que no fundo no fundo sempre desejamos isso, sermos ou termos, nem que seja por um brevíssimo tempo. Assim por dizer, mais um tipo de prazer estaria marcado na lacuna de coisas feitas e realizadas e com certeza o ego um tanto o quanto inflado por ter feito e conseguido se sair bem, as vezes.

Anônimo disse...

cara, vc escreve divinamente...