quarta-feira, setembro 14, 2005

O Erotismo Neoclássico

A base clássica da alfaiataria masculina moderna teve um efeito duradouro. Exatamnete como as antigas estátuas nuas, os homens gradualmente passaram a ter uma aparência similar; e o desejo de parecer assim. A maior uniformidade no vestir entre os homens que caracteriza os dois últimos séculos, em contraste com a variedade encontrada entre as mulheres, começou nesta mesma época. Era então um outro tributo às virtudes naturais e antigas, representando a irmandade de transparência moral e justeza de caráter, e ainda assim oferecendo paradoxalmente uma maneira de focalizar o individual. Hoje, no começo do século, quando os líderes mundiais se reúnem, todos vestem trajes similares que mostram a vontade uniforme de harmonia internacional, embora cada rosto pareça muito diferente.
Havia ficado claro no início do século XIX que, quando todos os homens usam uma gravata branca e um fraque preto à noite, o caráter individualizado de cada um se tornava mais importante, e não menos; e um efeito curioso (pelo menos na minha opinião) ocorria então nos eventos que misturavam homens e mulheres. Se cada mulher está presente no baile está cuidadosamente vestindo algo diferente, os trajes diferentes são a primeira coisa que você vê no salão, formando uma cena variável; mas conseqüentemente os rostos podem ser os mesmos, como uma boneca que estivesse vestida de muitas maneiras. Entretanto, quando duas mulheres usam o mesmo vestido, a primeira coisa que você percebe é quão diferentes as mulheres parecem!
De fato, o movimento Romântico já estava criando a noção da mulher como uma criatura que podia aparecer sob muitos disfarces, mas que tinha sempre a mesma natureza. A "Mulher" tornou-se uma espécie de força primitiva única, encontrada por homens individuais na fomra de exemplares dramaticamente variados que, não obstante, se acreditava serem apenas superficialmente diferentes, irmãs sob a pele de matizes diferentes. Esta noção foi parcialmente responsável pela divisão marcante, no vestuário do período romântico posterior, entre a solidariedade masculina, no que se diz respeito ao estilo uniforme e ao uso de cores discretas, e a diversidade feminina, com base em grande parte numa policromia vigorosa. As pinturas francesas, de meados do século XIX, de Frith e também de Monet e Manet mostram grupos de damas multicoloridas sobressaindo como variedades de arbustos floridos entre cavalheiros atarracados, de cores discretas, semelhantes a troncos de árvores e com rostos marcantes.
Entretanto, bem no começo do período neoclássico as mulheres obedeceram às regras antigas sobre o uso da cor, e aparecem pela primeira vez em branco clássico, modificado com uso de uns poucos matizes naturais nos xales drapeados e nos turbantes, ou chapéus, sapatos, luvas e sombrinhas. O efeito de toda esta simplicidade natural criada artisticamente era não apenas mostrar devoção a uma pureza de formas antigas mas, obviamente, intensificar o toque erótico já evidente na arte neoclássica e no gosto que tanto extraiu das formas completamente descritas de nu. Junto com a situação política, as maneiras haviam mudado de forma abrupta, e o comportamento grosseiro e a licensiosidade sexual tornaram-se mais observáveis publicamente em ambos os lados do Canal. Na arte, a intensidade erótica era bem representada num estilo linear e de poucas cores, como os trabalhos de Flaxman, Blake, Gillray, Rowlandson, Fuseli e mesmo Goya demonstram. Cores luxuriantes tornam os nus na arte mais belos e mais realistas - mas certamente a ausência de cor pode torná-los mais gráficos.

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