quinta-feira, setembro 01, 2005

Caricata

Sobre quem eu não sou, talvez não deveria dizer, soubesse que tantas palavras me emudeceram, soubesse que tantas visões me esclarecece.
Quisesse alguém me encontrar, quisesse eu amar, saber inócuo da minha cabeça.
Bem vindo ao meu novo blog.

Parabéns, você não pensou no futuro e virou escritor!

Ao lado do político derrotado, o escritor é o chorão mais falador e inventor da Terra. Ele vê dificuldades e injustiças onde quer que olhe. Seu agente não o ama (suficientemente). A folha de papel em branco é uma inimiga. O editor é um pão-duro. O crítico é um filisteu. O público não o compreende. Sua mulher não o compreende. O barman não o compreende. Estas são apenas umas das queixas mais comuns dos escritores, mas eu ainda estou para ouvir um deles expressar a queixa mais importante de todas: a despesa terrível e sem fim que se tem para pôr as palavras para fora.Isto pode ser uma surpresa para vocês que imaginam que equipamento de um escritor limita-se a papel, lápis e uma garrafa de uísque, e talvez um palitó de tweed para as entrevistas. Mas é muito mais do que isso! O problema que dá origem a todos os outros problemas é que escrever leva tempo e que este tempo poderia ser gasto ganhando a vida. O trabalhador mais humilde do Wall Street ganha mais em um mês do que 90% dos escritores que os escritores ganham em um ano. Um mendigo, ao ver um escritor arrastando os pés na sua direção, é capaz de enfiar a mão no bolso esfarrapado para ver se tem um centavo para lhe dar. O encarregado do empréstimo do banco se ensconde atrás da mesa para não ter que tornar a dizer não para a figura desesperada, de olhos esbugalhados, à procura de algo que o mantenha até ele terminar o grande romance. Ele sabe que o homem de letras não é um bom negócio de risco. "Escritores" e "dinheiro", assim como "inteligência militar", não são palavras que combinem. De vez em quando, evidentemente, erros são cometidos. Um dinheiro em enviado para financiar alguma missão séria e valiosa se desvia no meio do caminho e vai parar no bolso de um escritor. A sua estada ali é curta; não, como qualquer escritor poderá dizer-lhe, devido a alguma extravagância, mas por causa das exigências da profissão. A primeira delas é a nessecidade de paz, o que não é fácil encontrar hoje-em-dia. A vida na cidade pertuba a concentração. O fantasma tradicional do escritor urbano, a mansarda, tornou-se insurportável; o senhorio está sempre batendo na porta atrás dos seus R$ 2000 por mês, e nos breves momentos entre suas visitas, as baratas fazem um barulho horrível nas tábuas nuas no chão, a torneira que pinga ofende o cérebro, e a ventania que sacode o papel pardo enfiado na janela quebrada faz os dentes baterem. Emigrar para o campo é a única solução. Vejam o que isto fez a Thoreau. Mas não se pode ser uma velha cabana isolada de tudo e de todos. Isto é paz demais. De fato, tanta paz assim é capaz de fazer com que uma pessoa corra para a floresta atrás de uma árvore como quem possa conversar. É muito bom ter paz desde que você tenha um lugar para ir depois de terminar o trabalho, um lugar onde possa encontrar um ouvido simpático para se queixar. E que ouvido pode ser melhor, mais simpático, do que o de outro escritor? Ele sabe como tudo é difícil, ele o compreende.Foi assim que surgiram as colônias de escritores. É inevitavelmente que se estabeleceram, elas também atraíram agente, editores e donos de restaurantes rústicos, bem como corretores de imóveis. A paz e a vida simples do campo aos poucos desaparecem. O bar local florece como mato e começa a servir drinks complicados, e o lugar vira um inferno. É hora de se mudar de novo. Mas não podemos deixar que estes problemas domésticos interfiram com o ato de criação; Deus sabe que existem interferências demais.Vejamos, por exemploi, a questão da pesquisa. Para quem está de fora isto provavelmente sugere algumas horas na biblioteca ou meia dúzia de telefonemas, e talvez antigamente fosse somente isso mesmo. Hoje, no entanto, espera-se - mas que isto, exige-se - que os escritores produzam um trabalho autêntico nos mínimos detalhes. A imaginação e alguns detalhes de cor local não são suficientes; o leitor tem que saber que o escritor esteve lá e fez tudo aquilo. Experiência pessoaldireta é o que importa, e não tente enganar aquele jovem editor esperto com menos do que isto. Você vai escrever um romance de amor e morte passado na fronteira da Bolívia? Maravilhoso! Vá para lá. Volte daqui a 6 meses e não se esqueça de tomar suas vacinas contra cólera e fazer um seguro de saúde.O escritos às voltas com pesquisas podewm ser freqüentemente encontrado num dos cantos mais perigosso e desconfortáveis do mundo (por algum motivo, provavbelmente custos, pouquissimas pesquisas são realizadas no Ritzou ou em Palm Springs.) Em Beirute, na Nicarágua, nos vapores do Hong kong e no forno do interior da Austrália, você poderá encontrá-lo, obsorvendo a atmosfera curvando sobre seu bloco. Mas se você olhar por cima do ombro dele esperando vee a frase bem elaborada ou a observação reveladora, poderá ficar desapontado. O pobre infeliz é capaz de estar fazendo suas contas para ver se seu adiantamento que recebeu vai dar para um prato de feijão ou uma cerveja.Após alguns meses desta vida e um breve mas caro check-up no hospital de doenças exóticas, ele está tecnicamente pronto para começar o trabalho. A resma de papel em branco espera por ele. Os lápis estão apontados. Uma saga de proporções épicas, a matéris de que são feitas os prêmios Pulitzer, gira em sua cabeça.Mas será que ele consegue tirar aquela maldita história da cabeça e colocar no papel? Ele anda de um lado para o outro. Olha pela janela (escritores costumam passar um bocado de tempo examinando o clima) e controla a movimentação de uma mosca na parede. Finalmente, ele identifica o problema como sendo um caso grave do bloqueio de escritor. (Ou, segundo Arnold Glasgow, paralisia de escritor: "uma doença que ataca alguns romancistas entre as orelhas.") As palavras ainda não estão prontas para sair. Necessita-se de algum catalizador, algo que dê início ao processo, e você pode ter certeza de que qualquer que seja o catalizador, o escritor não irá encontrá-lo no aposento em que se encontra.São diversos e muitos variados os tipos de cura para o bloqueio do escritor e geralmente envolvem dívidas e problemas. Mulheres e bebidas são os preferidos, mas muitos escritores, criaturas engenhosas e criativas resistem à solução de procurar mulheres e bebidas locais. Eles também querem uma mudança de ambiente, de preferência de alguns de farra em NY ou Paris, sorvendo a vida até a última gota até que seus cartões de crédito sejam cancelados. É o que Hemimgway descreveu como sendo "a irresponsabilidade que vêm após a terrível responsabilidade de escrever." Exceto que, neste caso, nada foi escrito ainda. Mas será, será!E para ajudar, agora que a pesquisa foi feita o bloqueio foi (assim esperamos) desbloqueado, é hora para apelar para a moderna tecnologia para que a torrente de palavras possa fluir o mais rápido possível. Aqueles lápis primitivos não servem mais, devem ser substituídos pelo que há de mais moderno em termos de computadores desktop, completando com um pacote de software. Vale a pena até ficar na espreita do encaregado do empréstimo do banco para isso, pode-se conseguir avançar muito em termos de produtividade e tudo por uns míseros milhares de dólares. Finalmente! As palavras estão começando a sair e já não eram sem tempo, porque o espectro do prazo se tornou um companheiro constante, e aqueles telefones do editor que costumavam ser tão amáveis agora parecem mais um ultimato. Há uma ameaça velada de que se o manuscrito não for entregue, o adiantamento (já gasto há muito tempo) terá que ser devolvido.Isto provoca uma cadeia de acontecimentos e emoções familiares a todos os escritores. Começa com o pânico, quando ele percebe que tanto o prazo quanto as desculpas estão esgotados. Ao pânico segue-se uma sensação de euforia, à medida que as folhas vão se multiplicando de forma promissora - no mínimo um best-seller, e possivelmente um filme também. Depois da euforia vem o alívio, quando o manuscritó é entregue. O alívio é seguido de um anticlímax quando nada acontece - e não acontecerá antes de pelo menos seis meses. E o anticlímax é seguido de doses maciças de dúvida e consolo.O período entre terminar o manuscrito e ver o livro é desanimador. ninguém telefona mais. É cedo demais para as provas. É cedo demias para as revisões. É tarde demais para muar alguma coisa. O trabalho desapareceu e a depressão pós-partopode se instalar a menos que o sistema de recompensa do escritor seja ativado para ajudá-lo a atravessar os meses de limbo.Pode ser mais um mergulho na extravagância, uma viagem (desta vez sem o bloco de anotações), um novo hobby, uma velha chama, uma segunda lua-de-mel. Seja o que for, sem dúvida envolverá outra visita aos setores de empréstimos, porque nenhum consolo que valha a pena custa barato. Mas pelo menos há esperanças de se tornar um sucesso literário em pouco tempo.Ocasionalmente, com freqëncia suficiente para encorajar o otimismo, isto acontece, e nós vemos um autor best-seller brincando com um Havana de quinze centímetros enquanto espera o caminhão chegar com os seus dividendos. Mas as chances são poucas. A maioria dos escritores não tem tanta sorte. Para eles não resta mais nada a fazer a não ser tentar de novo. Ou arranjar um emprego, pagar as contas, viver uma vida regular e se comportar como um membro responsável da sociedade.Eu não sei como os outros escritores se sentem, mas eu preferiria viver precariamente no meu próprio escritório do que confortavelmente no escritório de outra pessoa. O meu poder de concentração em reuniões é atrofiado. usar gravata me causa brotoejas. A rotina do trabalho burocrático me dá claustrofobia e tenho um profundo horror a pastas de executivo, com tudo o que isto implica. A sedução do trabalho solitário, a qualquer custo, é irresistível. Trata-se de um hábito ou de uma doença? Não estou certo. Mas sei que a vida de escritor e de cinamatografia é a que serve pra mim. Essa segunda opção também nada gratificante...Por favor, envie o cheque pelo correio.

2 comentários:

Rafael Augusto Ferreira Cardoso disse...

testando...

Angélica disse...

Ei cara!
Achei seu link pela comunidade do Orkut... Mto legal seu blog! Gostei mesmo!
Abraços!