sexta-feira, setembro 09, 2005

Raiva e bem-estar

"Tens sido...Um homem que as desgraças e recompensas da SorteAceitas com igual gratidão... dÁ-me o homemQue não é escravo da paixão, que eu o trareiNo fundo do meu coração, sim, no coração do meu coraçãoComo faço contigo..."Hamlet a seu amigo Horatio


A capacidade de manter o autocontrole, de suportar o turbilhão emocional que o acaso nos impõe e de não se tornar um "escravo da paixão", tem sido considerada, desde Platão, como uma virtude. Na Grécia clássica, esse atributo era denominado sophrosyne, "precaução e inteligência na condução da própria vida; equilíbrio e sabedoria", como interpreta Page DuBois, um estudioso do temperantia, temperança, contenção de excessos. O objetivo é o equilíbrio e não a supressão das emoções: cada sentido tem seu valor e significado. Uma vida sem paixão seria um entendiante deserto de neutralidade, cortado e isolado da riqueza da própria vida. Mas, como observou Aristóteles, o que é necessário é a emoção na dose certa, o sentimento proporcional e circunstância. Quando as emoções são sufocadas, geram embotamentos e frieza; quando escapam aos nossos controles extradas e renitentes, tornam-se patológicas, tal como ocorre na depressão paralisante, na ansiedade que aniquila, na raiva demente e na agitação maníaca.Na verdade, manter sobre controle as emoções que nos afligem é fundamental para o bem-estar; os extremos - emoções que vêm de forma intensa e que permanecem em nós por muito tempo - minam nossa estabilidade. É claro que não devemos sentir um só tipo de emoção: ser feliz o tempo todo de certa forma sugere a insipidez daqueles adesivos com rostos sorridentes que foram moda nos anos 70. Muito pode ser dito sobre o lado construtivo do sofrimento para a vida criada espiritual; o sofrimento fortalece a alma. Os altos e baixos dão tempero à vida, mas precisam ser vividos de forma equilibrada. Na contabilidade do coração, é a proporção entre emoções positivas e negativas que determina a sensação de bem-estar. Não se trata de evitarmos os sentimensot desagradáveis para que fiquemos satisfeitos, mas, antes, de não permitir que sentimentos tempestuosos nos arrebatem, atrapalhando o nosso bem-estar. As pessoas que têm fortes episódios de raiva e depressão conseguem, mesmo assim, obter uma sensação de bem-estar. Meu avô sempre me falou: "raiva alimenta a raiva". Ele sempre conseguiu se segurar. Sempre tive coragem de saber como ele conseguia, mas segundo ele, só descubrimos depois que "o sapato apertado deixa de incomodar e você consegue enxergar que a vida passa rápido e não merece a raiva tomando nosso tempo, que é muito melhor aceitar e procurar ser sereno." Nada disso significa que ele não tem altos e baixos, mas pelo menos, acredito eu, ele consegue superar todas as tristezas somente com a sua própria cabeça.

"_Quem ensinou tudo isso ao senhor, Doutor?A resposta veio prontamente:_O sofrimento"ALBERT CAMUS - A Peste

Um comentário:

Anônimo disse...

Sábio seu avô!
Realmente negar sentimentos é ter uma vida vazia. E quanto à paixão é idêntico ao preconceito, ainda não existe remédio para evitá-los e nem como se precaver dela! Sendo assim... apaixone-se sem medo de ser feliz, e se não for... tentou! Quanto ao preconceito... aos poucos aprenderemos sobre e quem sabe até evitá-lo!

Bom sábado!!!